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O Senhor A (I)


O Senhor A, narrador deste romance, vai morrer numa segunda-feira, saindo para o trabalho e um tanto incomodado (na verdade, havia tempo) com dores de coração que, exatamente naquele dia, voltarão a insistir, de forma definitiva e sem tréguas. “Músculo involuntário”, dizia a canção. Assim, nos últimos meses, vinha pensando bastante no coração, coração-músculo-amor-paixão-signo-símbolo-artérias-infarto.

Porque (sabia) VIVER é isso: Você está tranquilo fazendo suas coisas, dando mais alguns novos passos e, num repente, alguém te desliga. Em segundos. Você não vê nada. Trevas. Haverá consciência? A Senhora H acreditava que sim. Por hora, sabe-se que o maior medo do Senhor A era morrer sozinho, não exatamente pela possível falta de alguém para segurar sua mão e dizer adeus (e ele percebia como um grande clichê), mas para dar cabo do corpo, devolvê-lo à Terra, esse gesto inaugural do amor da nossa frágil humanidade. Temia ser atirado ao léu como o irmão de Electra.

E é por não saber o que acontece depois do curto-circuito-final que ele pensava tanto no corpo, na solidão de morrer sozinho. Ao pó retornarás, sentença inevitável. Mas sua imortalidade estará reservada nessa obra que o Senhor A escreveu e ninguém leu, secretada numa caixa-herança de textos. Só depois da visita da Grande Senhora, o Senhor A poderá ser inteiramente descoberto. Mas, antes, ele escreverá e publicará o romance "A Casa da Senhora H".

"A Casa da Senhora H", romance em construção. Prêmio Funarte/ Biblioteca Nacional de Criação Literária 2012. Saiba mais sobre o livro aqui.

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