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DESPEDIDA INESPERADA NO CAOS

DIÁRIO DO ROMANCE #9 29 de janeiro de 2020. Dia estranho, pós-temporal, pós-dilúvio, a cidade em caos, muita destruição, pessoas desabrigadas, ruas e avenidas em estado de guerra, mortes, e a previsão é de mais chuva por aqui, que os deuses e deusas nos protejam! Como é possível pensar em literatura no meio de tanta lama? Onde estão as autoridades, onde está a sociedade, a mea culpa geral de abandono do meio ambiente, de uma capital que negligencia seus rios, que os cobre de asfalto e concreto, que prioriza carros particulares, que não investe em transporte público de qualidade, que não dá assistência aos menos favorecidos que vivem em áreas de risco?

São tantas perguntas, tantas, e ainda temos que aguentar a culpabilização da natureza (Oi??), como se não fosse por nossas mãos, por nosso descaso com o lixo, com as nascentes, com a desertificação das cidades e os cortes de árvores, por nossas ações humanas predatórias que chegamos ao caos contra nós mesmos. A tempestade não poupa ninguém, se antes afetava as moradias precárias e mais periféricas, agora chegou à Zona Sul e devastou comércios, praças, avenidas, enchentes arrastando carros importados. Será que agora acontece alguma coisa? Ou será uma mobilização seletiva para poupar e reerguer os mais favorecidos? E o que nós podemos e devemos fazer agora?

Não tenho texto novo hoje, não conseguirei escrever. Tive plantão no Colegiado do Curso de Comunicação na UFMG pela manhã, o campus quase deserto, o assunto das chuvas por todos os lados, nos corredores, no rádio e na TV, nas redes sociais, no Uber de ida e volta. E, antes de sair de casa, fui surpreendido pela Conceição, minha diarista há 19 anos, que hoje se despediu de forma inesperada, precisa tirar férias porque está deveras cansada, não aguenta mais o trabalho doméstico, pois é fichada como faxineira de um prédio na zona oeste e chega aqui uma vez por semana em modo segundo turno. Recomendou que encontrássemos outra pessoa, entendi, ela não vai voltar.

Ainda que soubesse que esse tempo estivesse chegando, é triste ver ir embora alguém que cuidou de você, da sua casa, das suas coisas, com tanta dedicação e lealdade. Hoje resta um pouco de tristeza, o adeus foi breve, apressado, como se a despedida não quisesse se realizar, ainda que tudo estivesse dito. Só tenho um grande sentimento a retribuir à Conceição: gratidão e desejo de uma vida nova, com melhores oportunidades.

Enquanto a nova chuva não chega, momento de ir à barbearia, aparar os cabelos que me restam e a barba que me salva. Chego em casa e uma sensação estranha de saber que não será mais a Conceição na próxima semana, que manteremos contato pelo wapp, e que a vida segue, pedindo sempre mudanças e renovação. Daqui a pouco vou para o Teatro Marília trabalhar na montagem de “A Obscena Senhora H” que volta aos palcos de BH para quatro apresentações na Campanha de Popularização. A peça saiu das páginas do romance @acasadasenhorah, mas deixo esse assunto para o próximo diário.

Até amanhã, leitoras e leitores!

Acompanhe o Diário Final do Romance #ACasaDaSenhoraH no blog #EscritaEmProgresso https://www.juarezguimaraesdias.com/blog-escrita-em-progresso

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