GLÓRIAS
DIÁRIO DO ROMANCE #11. 31 de janeiro de 2020. Acordo feliz pela reestreia ontem do espetáculo “A Obscena Senhora H – Paixão e obra de Hilda Hilst” na Campanha de Popularização, com casa cheia e muitos retornos incríveis de pessoas do público. A temporada segue hoje e amanhã às 20h e domingo às 19h. É gratificante saber como essa história tem arrebatado plateias, proporcionando muitas afetações e questionamentos, sobretudo por mulheres que se reconhecem no relacionamento abusivo vivido por Hilda Hilst com seu primo 20 anos mais jovem.
Depois do café, termino de ler “Glória”, romance laureado pelo Prêmio Jabuti em 2013, em que o autor Victor Heringer nos oferece um anti-romance sobre uma anti-família, que tem Benjamin como anti-protagonista. Criando uma espiral de ficção dentro da ficção, acompanhamos a anti-saga dos Costa e Oliveira num estilo machadiano contemporâneo pós-pós-moderno. Recomendo a leitura, seguida do ótimo “O amor dos homens avulsos” do mesmo autor, um talento raro que nos deixou aos 29 anos de idade.
O restante do dia não me permite escrever, nem voltar aos materiais, estou ocupado com demandas acadêmicas, do Colegiado e do Departamento: análise de inúmeros requerimentos de matrícula com inconsistência (deferir ou não deferir, eis a questão!), elaboração de Plano de Trabalho 2020, análise e redação de parecer de atividades realizadas por uma colega em 2019 a ser aprovado pela Câmara Departamental, envio de Planos de Ensino das disciplinas do próximo semestre, além de responder e-mails de orientandos e outras mensagens. O dia é curto para tantas tarefas, mas amanhã volto ao romance @acasadasenhorah, sem falta. O tempo está correndo e o prazo que me impus para finalizar a revisão é 21 de fevereiro. Amanhã começa o novo mês.

Para não deixar o diário do romance em branco, um excerto da dramaturgia de “A Obscena Senhora H”, que saiu das páginas do livro:
SENHORA H, na sala da Casa do Sol, concedendo uma entrevista, pausa entre as perguntas que não são explicitadas:
Hilst. Hilda Hilst. Antes de ser mulher, sou inteira Poeta.
De todos meus trabalhos, Qadós é meu preferido. Eu sempre soube que eu era um gênio. Eu acordo às 7 de manhã, tomo café quieta e tensa. Depois vou para o escritório e fecho as portas e janelas e fico absolutamente concentrada no texto. É impossível estar centrada na ligação do Homem com o Divino, com o Inominável, vendo o céu azul, as ondas do mar, o sol se pondo, as estrelinhas. Aliás, já comentaram comigo que não fico feminina nesta fase. Fico mais cortante, mais áspera na vida diária. Eu sinto febre, eu estou jogando a máscara fora.
Atualmente estou trabalhando em A Obscena Senhora D. O livro está caminhando com extrema lentidão. Nos dias em que atinjo uma alta produção, consigo completar uma página; na maior parte do tempo a obra fica engavetada. É que estou amando e para mim, definitivamente, amar e escrever são verbos que não combinam, se contrapõem, se chocam, se destroem. Na verdade, um de meus impulsos para escrever é a libido do trabalho, ou como disse Balzac: “Uma noite de amor, um livro de menos.”
Ph: Matheus Soriedem
Até amanhã, leitoras e leitores!
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