

Sentinela
Para alguém que vai chegar. Eu, sentado à espera de alguma coisa que não sei, um movimento qualquer de dentro pra fora, um olhar do outro lado daquela janela, um música no rádio estragado, uma voz vinda não sei de onde que apenas me diga: te amo. Um impasse inerte e desconfortável. Esconjuro pai e mãe nesses momentos em que bebo, não só eles, irmãos e tios e amigos, também o Governo, povinho safado, e também esses ladrões que andam à solta por aí, bandidos cruzando o centro d


Parece coisa de novela, mas não é
Uma das pautas abordadas pela telenovela global #AForçaDoQuerer é a questão das pessoas transgênero, por meio da personagem Ivana (Carol Duarte) e, mais recentemente, de seu amigo Tê (Tereza/Tarso Brant), que a ajudou inclusive a se descobrir e a se reconhecer. Entretanto, em conversas com minha mãe, que para mim é uma das referências de público televisivo médio (ou seja, que faz parte do grupo que tem a telenovela como entretenimento regular, passando de uma a outra para se


Meus dois filhotes
Tornei-me escritor profissional primeiro pela dramaturgia e depois pela pesquisa acadêmica, que me rendeu, entre outras coisas, a publicação de dois importantes trabalhos, meus dois filhotes que me enchem de orgulho: “Narrativas em cena: Aderbal Freire-Filho (Brasil) e João Brites (Portugal)”, pesquisa de Doutorado na Unirio e publicada em 2015 pela Móbile Editorial em parceria com a FAPERJ, e o primogênito “O fluxo metanarrativo de Hilda Hilst em ‘Fluxo-floema’” (2010), resu

Ser Escritor (no Brasil)
A escritora Lygia Fagundes Telles, na única vez em que nos falamos ao telefone, afirmou sem rodeios: “É muito difícil ser escritor num país de analfabetos”. Hilda Hilst, por sua vez, repetia em entrevistas: “Escreva em inglês. Português ninguém conhece”. Infelizmente a leitura se elitiza e se restringe num país como o nosso pela falta de acesso da maior parte da população a uma formação educacional pública mais sólida e consistente, ou mesmo pela falta de incentivo e exemplos